Jardim dos Mestres

Conceito, Vivência e Prática da Gnose

Todas as grandes religiões falam de desapego, altruísmo, compaixão, amor, paz, felicidade. Porém, quantos de nós já refletiram sobre esses temas? Se não refletirmos, se não nos aprofundamros, nossa percepção sobre eles será superficial.

Saímos em busca de religiões, na esperança de alcançarmos a felicidade. Então, se todos nós queremos a felicidade, a paz, por que não nos permitimos ser felizes agora? E mais, por que, quando a paz e a felicidade surgem, pensamos coisas como: “Ainda tenho egos, não posso estar feliz”.

Buscamos a felicidade, mas de fato não somos felizes e não nos esforçamos para alcançarmos a felicidade, o que dá a impressão de que não estamos tão interessados assim em termos paz e felicidade.

Saímos em busca de religiões, na expectativa de conseguirmos nos livrar da dor e do sofrimento. Queremos uma forma de nos livrarmos do sofrimento e da dor, mas não queremos analisar, investigar, eliminar suas causas. Será então que nos libertarmos da dor e do sofrimento é tão importante? Ou será que preferimos sentir os mesmos prazeres, fazer as mesmas coisas?

As diversas religiões também possuem seus ensinamentos morais. Contudo, ao que parece, esses valores morais acabam se tornando dogmas, travas mentais geradoras de culpa, repressão, que mais aprisionam do que libertam. Tem que fazer isso, não pode aquilo. Tudo parece pecado, errado, mau.

E, quando conhecemos a gnose, ao invés de esta realidade mudar, ela tem piorado, ao que tudo indica. Temos ficado ainda mais reprimidos, sempre nos sentindo culpados, forçados, obrigados, tolhidos em nossa liberdade. Dogmatizamos os ensinamentos e passamos a viver com um constante medo de errar, de ser punido. Estamos sempre preocupados, inseguros, temerosos, sempre na defensiva, sempre nos protegendo. Internamente vivemos um conflito entre o que pensamos ou sentimos e os ensinamentos adquiridos, um conflito entre a razão e os desejos, entre a mente sensual e a mente superior.

Surgem então algumas questões sobre as quais vale refletir. Por que isso ocorre? É nossa vontade agirmos segundo nossos instintos e desejos? Queremos nossos prazeres de volta por estarmos carentes? Estamos realmente numa busca espiritual ou procuramos apenas uma fuga? Como era a nossa vida antes de conhecermos a gnose? Por que tudo se tornou um dilema ou algo fantástico? Por que comer um doce se tornou problema, passou a gerar culpa, repressão? Por que um almoço com a família se tornou algo errado? Por que os aspectos comuns da vida prática viraram fantásticas provas iniciáticas?

A experiência e a observação mostram que é muito fácil falar sobre espiritualidade, sobre purificação, etc., mas que, por outro lado, é bem difícil viver tudo isso. Contudo, se as ideias não podem se tornar práticas, então nossa filosofia é apenas um intelectualismo vazio, um idealismo, e a nossa religião em nada ajuda, pois não há transformação.

A gnose é uma filosofia, mas possui métodos práticos para que esta transformação seja um fato na vida de cada um de nós.

Ao buscarmos ajuda, os instrutores sempre costumam falar que falta prática. Então, ou aumentamos o tempo e a quantidade das práticas realizadas, ou admitimos que não dispomos do tempo necessário para aumentarmos essas práticas. E o resultado é o mesmo: nenhum. A questão é: de que práticas estão falando? O que é preciso fazer para relaxarmos? Onde podemos praticar a concentração? O que falta?

A prática da gnose inclui o estudo constante, pois assim sempre nos lembramos da doutrina e aprofundamos nosso entendimento. Entretanto, se não estudarmos, aos poucos iremos perdendo o contato com a doutrina até que não tenhamos mais interesse. Muito se fala sobre estudar, sobre conhecer, e então surgem novas questões. Lemos as obras do Mestre Samael? Lemos Jacob Boehme? Lemos Mestre Takuan? Lemos Eliphas Levi, ou Krishinamurti?

A informação é importante, é o primeiro passo, mas não é tudo. Um equívoco comum é acreditar que, ao recebermos uma informação, já nos transformamos. O que realmente importa é a experiência, a percepção dentro de nós mesmo. Precisamos realizar a gnose em nossos corações e mentes.

É útil, neste momento, pararmos para refletir o que lembramos das ideias da doutrina, pois elas precisam estar vivas em nossos corações e mentes, em nossa memória de trabalho, para que seja possível colocá-las em prática. Nesta reflexão, precisamos não só verificar quais ideias da doutrina somos capazes de lembrar como também tentar lembrar e analisar situações reais de nossas vidas diárias onde aplicamos as ideias da doutrina, onde tivemos dificuldades de aplicá-las, onde surgiram conflitos entre ideias e comportamentos, pensamentos, sentimentos, emoções.

Temos dificuldade para colocar a gnose em prática? Há conflito? Há conflito entre ideias e comportamentos, pensamentos e sentimentos, pensamentos e emoções? Ou tudo flui natural e tranquilamente?

Quais são as ideias da doutrina que lembramos? De que exemplos práticos, exemplos da aplicação destas ideias na vida diária, nos lembramos?

Dentre as ideias da doutrina estão: a inexistência de um eu permanente; impermanência; transformação das impressões; mudança na forma de pensar; auto-observação; oração; memória trabalho; continuidade de propósito; três mentes; três fatores de revolução da consciência; verniz social; cinco centros; choques de consciência; urgência interior; desperdício de energia. Tudo isso é muito bonito, fascinante. É lindo discursar sobre o não identificar-se, a impermanência. Mas a questão é: como vivemos essas ideias?


10 de novembro de 2012

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