Jardim dos Mestres

Dúvidas

Buscamos, buscamos, buscamos, pois não acreditamos em nada, estamos confusos, cheios de dúvidas, indecisos. Comparamos religiões, teorias, filosofias, mas não vivemos nada.

Já lemos muito, já ouvimos muito, e os resultados foram apenas dúvidas, confusões, conflitos internos. Ouvimos dizer ou lemos que devemos mudar, achamos que queremos mudar, mas não sabemos para quê, nem aonde, nem como.

Duvidamos dos Mestres, das doutrinas, de todos aqueles que nos instruem. Tememos estar fazendo algo errado, estar perdendo tempo. Sempre achamos que alguém está nos escondendo algo.

Temos muitas dúvidas, muitas das quais nem nos damos conta, ainda que sejamos atormentados constantemente por elas.

Lemos e ouvimos sobre as experiências dos outros, sobre ensinamentos diversos, e tudo isso acaba por gerar ainda mais dúvidas.

Quando olhamos para os outros, buscadores, instrutores, temos a impressão de que existe algo errado no comportamento deles; não compreendemos, criticamos, julgamos. Temos ideias sobre como deve ser o comportamento de alguém e ficamos confusos quando não vemos o que esperávamos.

Lemos, ouvimos, tentamos encontrar uma resposta, uma forma de agir que nos livre do sofrimento, do conflito, tentamos encontrar um padrão que nos traga segurança. E, quando tentamos colocá-lo em prática, surge a dúvida: o que percebemos e sentimos não condiz com o ideal aprendido. Há conflito. Há dor. Há algo de errado, mas não sabemos o quê. Há dúvida.

Lemos e ouvimos sobre as práticas e as técnicas, mas duvidamos quanto a seus resultados. Constantemente, fazemos avaliações de nossas experiências e progressos, por estarmos em dúvida. A leitura sem reflexão, a observação sem reflexão, levam à dúvida.

Temos muitos desejos, desejos conflitantes. Isso também é dúvida. Queremos isso, queremos aquilo, e não sabemos o que fazer. Queremos a espiritualidade e também queremos as coisas do mundo. A dúvida martiriza nossos corações e mentes.

Lemos e ouvimos sobre os ensinamentos e ficamos tomados de dúvidas: matar ou não um inseto? Cortar ou não a grama? Reagir ou ficar quieto? Devo aceitar tudo passivamente, ou será que isso também é errado? O que devo fazer? Falar de minhas habilidades é vaidade? Negá-las é falsa modéstia? O que devo dizer então? Devo conversar com um instrutor sobre minhas experiências ou não? O batalhar de antíteses é torturante.

Assim como Arjuna, quando entra no campo de batalha, nós também estamos cheios de dúvidas. Falamos como sábios, mas agimos como coverdes.

Meditamos, entoamos mantras, fazemos orações, mas duvidamos de nossos progressos. Queremos auxílio, queremos saber como estamos internamente, o quanto avançamos, duvidamos de nossas próprias experiências, de nossas próprias compreensões. Mesmo que a bem-aventurança surja, ainda duvidamos, nos sentimos culpados, achamos que deveríamos estar fazendo algo.

Temos dúvidas, mas não questionamos. Temos dúvidas, mas não refletimos sobre elas. Colocamos nossas dúvidas debaixo do tapete, não lhes damos importância, não olhamos para elas, por mais que nos atormentem.

Dúvida é incerteza, indecisão, confusão, derrotismo, falta de autoconfiança. É a constante sensação de estar fazendo algo errado. As dúvidas trazem a insegurança, a hesitação. As dúvidas provocam muito barulho em mente, muito tormento.

Informação não é vivência. A mera crença sem investigação, sem reflexão, sem a experiência direta, traz apenas dogmatismo, culpa, fanatismo, repressão.

Aquele que teve a experiência da gnose não tem mais dúvidas. Não basta ler e ouvir, cada um deve experimentar diretamente a gnose em sua mente e seu coração.


24 de fevereiro de 2013

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