Jardim dos Mestres

Céu, Inferno e o Trabalho Sobre Si

budhaNossos pensamentos são sempre com referência ao que achamos que somos, o corpo e a personalidade. Vivemos um mundo de fantasias e ilusões. Os véus de Maya estão em nossas mentes e não no mundo.

Nós queremos informações, palestras, queremos seguir um caminho apenas na mente, um caminho feito de ilusões e fantasias, não queremos fazer nada, não queremos mudar nada, não queremos morrer para nada, sacrificar nada, não queremos nos esforçar para nada, não queremos orar oração nenhuma.

Nós queremos ouvir sobre possibilidades maravilhosas, sobre iniciações, viagens em astral, estados jinas, levitação, experiências fantásticas. Sobre o concreto e objetivo, o prático, ninguém quer ouvir e muito menos fazer. Porém, ao escolhermos um mundo de fantasias e ilusões deliciosas e prazerosas, sofremos com as fantasias e ilusões dolorosas, honrosas, tenebrosas. Ou seja, a fantasia de caminho espiritual e a fantasia de inferno são dois pólos da mesma coisa.

Nós queremos fantasias de compreensões que mais tarde nossas mentes confusas colocam em dúvida, queremos sonhar com poderes, queremos alucinações, fantasias de visões, cores e luzes em práticas que mal chamamos de meditação.

Os Santos, Mestres, Budas, não fantasiaram as coisas, eles viveram, eles fizeram. Não ficaram pensando em ler ou não ler livros. Não ficaram pensando em construir ou não construir templos. Não ficaram pensando em restaurar ou não restaurar templos. Não ficam pensando curo ou não curo no sábado. Eles fizeram. São Francisco fez. Mestre Samael fez. Nenhum deles ficou esperando virar santo, mestre ou buda para começar a fazer algo. Nenhum deles ficou pensando estou no inferno ou não estou no inferno.

Antes de iniciar a transformação que o levaria a ser um dos Santos mais importantes do cristianismo, São Francisco era um boêmio. Antes de iniciar a transformação que iria levar a libertação da Índia, Gandhi era preguiçoso e devasso. Antes de se decidir por uma regeneração, Milarepa era ladrão e assassino. Assim, o que temos de exemplo destes grandes seres é mudança, ação, decisão, força, firmeza, vontade. Cabe a nós fazer o mesmo, seguir o exemplo e sustentar as mudanças, as decisões. Mais uma vez,  nenhum deles ficou pensando estou no inferno ou não estou no inferno, eles fizeram.

Utilizando o medo, a igreja escravizou a todos, tal qual faz um guardião do umbral com um neófito despreparado. Com a imaginação contaminada por dogmas, imagens, fantasias, idéias falsas e tortas, nós vivemos assombrados por um inferno que só existe em nossas mentes.

É a nossa mente mecânica que, assombrada por fantasias católicas, mal interpreta o que aqui é dito, tomando exortações, chamados a uma revolução interna e invocações à alma por terrorismo.

É a nossa mente que, assombrada por mentiras católicas, faz com que fiquemos congelados no caminho, preocupados, olhando para baixo, tentando evitar um inferno de mentira ao invés de olharmos para cima, para luz e caminharmos para ela.

Não há inferno pior do que uma mente atormentada. Não há inferno pior do que viver com uma mente que atormenta. Assim o que é necessário é purificar a mente, algo concreto, que se faz com mudança de conduta, transformação de impressões, com a prática de meditação, reflexão profunda, compreensão e súplica a Divindade.

Quando perguntaram ao Abençoado se o Nirvana existia e onde era o Nirvana, ele respondeu questionando se o ar existia e onde estava o ar.

O diabo está dentro de nós mesmo em todas as formas de desejo e maldade que habitam nossos corações. Assim o que é necessário é a purificação do coração, algo concreto, que se faz com mudança de conduta, transformação de impressões, com a prática de gratidão, mantras, orações e súplica a Divindade.

As pessoas choram por acharem que estão no inferno, mas não se dão conta de que estão no inferno.

São as orações e os arrependimentos sinceros que podem nos tirar do inferno. Contudo, as pessoas só se arrependem quando percebem e compreendem algum motivo, quando percebem e compreendem sua realidade. E aí está o grande problema, pois ninguém percebe a gravidade de sua situação, de seus comportamentos, de seus erros. Todos acham que estão indo muito bem, que fazem tudo o que é possível, que são ótimas pessoas.

É importante ressaltar que não há arrependimento sem mudança, há apenas hipocrisia.

Quando se diz que não há mais salvação é porque se percebe que as pessoas vivem como vivem e não vão mudar, não querem mudar.

Todos querem uma salvação que venha de fora. Todos se acham merecedores. Talvez estejamos sonhando com ilusórias naves espaciais.

Talvez estejamos apenas querendo aceitar um salvador e freqüentar eventos sociais sem compromisso algum, sem mudança alguma. De nada adianta uma religião se não há transformação.

Se é dito que ainda há salvação querem saber o que fazer. E ao serem informados do que devem fazer não fazem, nada fazem. Sem mudança não há salvação. Todos querem salvação. Porém, continuando a viver como vivem, fazendo o que sempre fizeram. O que é impossível.

Renunciar a novela esta próximo de nós é algo factível. Assim como renunciar à cerveja, ao cigarro, aos excessos, à mentira, à maldade, ao desprezo, ao desrespeito, as desculpas para não fazer práticas, à formatura do meio irmão da prima do cunhado, ao aniversário do vizinho, ao velório do desconhecido. Tudo isso é concreto.

Ajoelhar, fazer orações e súplica é algo concreto.

Se estamos no inferno, devemos trabalhar muito para sair. Se saímos do inferno, devemos trabalhar muito para não voltar.

Talvez tudo isso parece simples demais para nossas mentes complicadas. De fato é simples e é na simplicidade que se encontra a salvação.

Equipe Jardim dos Mestres


3 de junho de 2013

2   Respostas em Céu, Inferno e o Trabalho Sobre Si

  1. Ivan disse:

    Belíssimo texto! Simples e objetivo.

  2. José Gilberto de Mariz disse:

    Emfim nossos grandes problemas, nada a mais, nada a menos, são projeções de nós mesmos. Devemos cultivar as boas sementes do bem, que haveremos de colher a bonança. Plantemos e arraiguemos um Deus dentro nós mesmos e frutificaremos como resultado o verdadeiro conhecimento da fé e da espiritualidade. Imagino que o texto expressa isso, e traz-nos a essência do reconforto interior.

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