Jardim dos Mestres

Sobre a Não Identificação

 

Não devemos confundir a não identificação com desprezo, desrespeito, desvalorização ou humilhação. Devemos ser retos na forma de agir, de pensar, de sentir, de falar, como ensina o Senhor Buda. Não é porque não somos o corpo que vamos largá-lo sujo, mal vestido ou faminto. O corpo é nosso veículo neste plano. O corpo é o templo de nosso Espírito, de nosso Ser.

Devemos evitar a identificação com o corpo físico e com a personalidade. O Ser tem fé no Divino e sabe que nada lhe faltará. O Ser é Divino. Aquele que vive para a grandeza do Ser constrói sua casa sobre a rocha, enquanto o que vive para “si próprio” constrói sua casa sobre a areia. Buscando o Divino nada faltará, tudo nos será dado.

O verdadeiro amor só aparece na ausência da identificação, na ausência do Ego, assim como a verdadeira compaixão, que também só acontece na ausência da identificação, na ausência do Ego. Estes são sentimentos Divinos, que não podem se manifestar na presença do Ego, muito menos através dele.

Porém, não é porque não nos identificamos com um emprego que não vamos trabalhar de forma correta. Vamos, sim, mudar a visão que temos deste emprego e reconhecê-lo tal como é e qual a sua função : o sustento, o suporte para que as coisas do Espírito possam se manifestar neste plano.

Se nos identificamos com o trabalho, com o Eu, com o Ego, passa a ser mais importante que o trabalho. Então nasce a disputa, a necessidade de auto-afirmação, de provar superioridade, de ser melhor do que os outros. E nasce, juntamente com essa visão viciada, a insegurança e o medo. O foco já não mais é o trabalho, passou a ser o Ego e seus dejesos, suas necessidades de prazer.

Desta forma, nos comportamos como crianças vivendo suas brincadeiras. Escolhemos nossos papéis, todos querem ser grandes, importantes, perfeitos. Um diz: “Eu vou ser o dono!”, o outro responde: “Eu vou ser o diretor!”. E aí começa toda a ilusão, toda a fantasia. Identificamo-nos. Mas logo surge a situação seguinte onde alguém protesta: “Ah, assim não vale! Você está fazendo o que era para eu fazer. Desse jeito, não quero mais brincar!”. Ficamos bravos e irritados, pois fomos privados de nossos brinquedinhos, de nossos prazeres.

Quando o trabalho é o foco e o Ego se desfaz, então o trabalho se torna devoção. E o produto gerado a partir daí é realmente maravilhoso. Somente o divino em nós pode nos fazer criar algo divino. Neste caso, criamos não porque desejamos, mas porque abrimos espaço para que assim acontecesse.

Enquanto continuarmos a dar importância às coisas mundanas, estaremos nos identificando. Esta importância que atribuímos aos bens materiais pode ser muito sutil. Então, mais sutil ainda será a identificação. A importância que damos a esses bens é também uma projeção de nossa auto-importância.

A não identificação não é questão de controle ou de autocontrole. É percepção pura, e está muito além da pobre e limitada idéia de controle.

 Fabio Ferreira Balota


8 de outubro de 2014

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