Jardim dos Mestres

Os Irmãos do Himalaia – Eles realmente existem?

Por Mohini Mohan Chatterjee, M.A, Advogado, M.S.T.


“Peça e lhe será dado, bata e lhe será aberto” – esta é uma representação exata da posição do investigador sério sobre a existência dos Mahatmas. Não soube de ninguém que tenha realizado esta investigação com a devida seriedade e não tenha sido recompensado pelo seu trabalho com conhecimento – e certeza. Apesar de tudo isso existem muitas pessoas que criticam e criticam, mas não se dariam ao trabalho de experimentar a coisa por si mesmas. Tanto para os europeus quanto para um setor de nossos próprios compatriotas – os graduados das Universidades, muito europeizados – a existência dos Mahatmas é vista com incredulidade e desconfiança, para dizer o mínimo.

A posição dos primeiros é facilmente compreensível, pois estes assuntos encontram-se tão distantes de seus horizontes intelectuais e sua auto-suficiência é tão grande, que são praticamente impermeáveis a estas idéias novas. Mas é muito mais difícil compreender por que pessoas deste país, que nasceram e cresceram numa atmosfera saturada com estas tradições, deveriam apresentar tal ceticismo. Seria mais natural para eles, por outro lado, aceitar provas como as que agora estou colocando diante do público, com a mesma satisfação sentida por um astrônomo quando uma nova estrela, cujos elementos ele calculou, aparece navegando dentro de seu campo de observação.

Eu próprio fui um completo descrente até apenas dois anos atrás. Em primeiro lugar, nunca havia testemunhado pessoalmente nenhum fenômeno oculto, nem encontrado alguém que o tivesse feito neste pequeno círculo de nossos compatriotas, que em minha educação foram descritos como os únicos merecedores de algum respeito – as “classes educadas”. Foi somente em outubro de 1882 que realmente dediquei algum tempo e atenção a este assunto, e o resultado é que tenho tão pouca dúvida em relação à existência dos Mahatmas quanto em relação à minha própria.

Eu agora sei que eles existem. Mas por um longo tempo, as provas que havia recebido não possuíam, todas, um caráter objetivo. Muitas coisas que constituíam provas bastante satisfatórias para mim não o seriam para o leitor. Por outro lado, não tenho o direito de falar da evidência incontestável que agora possuo. Portanto devo fazer o melhor que posso com o pouco que me é permitido falar.

No presente texto, reuni evidências que possam ser perfeitamente satisfatórias para todos aqueles capazes de algum modo de mensurar sua força comprobatória.

As evidências agora colocadas diante do público foram coletadas por mim durante os meses de outubro e novembro de 1882 e eu estava, na época, em contato com alguns dos principais lideres da Sociedade Teosófica, o Sr. Sinnett, entre outros.

O relato da entrevista do irmão Ramaswamier com seu “guru”, no Sikkhim, estava então pronto para publicação, e não havia necessidade, na opinião deles, de que o presente texto fosse escrito. Mas, uma vez que se tentou, em algumas partes, minimizar o efeito da evidências do Sr. Ramaswamier chamando-as bastante absurdamente, de “alucinações de um arquivista ambulante quase congelado”, penso que se pode ganhar algo através da publicação de testemunhos perfeitamente independentes e talvez de igual, senão de maior valor, ainda que de um caráter completamente diferente.

Com estas palavras de explicação quanto ao atraso da sua publicação, ofereço este texto à critica de nossos amigos céticos. Que eles considerem calmamente e se pronunciem sobre o testemunho do mascate tibetano em Darjeeling, apoiado e reforçado pelo testemunho independente de um jovem brahmachari em Dehradun. As pessoas que estavam presentes quando as declarações foram tomadas ocupam todas posições muito respeitáveis na vida – algumas pertencendo, de fato, às classes mais elevadas da sociedade hindu, e várias sem conexão alguma com o movimento teosófico, mas, ao contrário, totalmente hostis a ele.

Naqueles dias, volto a dizer, eu era um pouco cético. Foi somente após ter coletado as evidências que seguem e ter recebido mais do que uma prova da existência real de meu venerado Mestre, Mahatma Koothoomi, cuja presença – totalmente independente da Sra. Blavatsky, Coronel Olcott ou qualquer “suposto” Chela – tornou-se evidente para mim de várias maneiras diferentes, que coloquei de lado a insensatez de duvidar por mais tempo. Agora não acredito mais – SEI; e, sabendo, gostaria de ajudar outros a alcançar o mesmo privilégio. ——————— M.M.C. Durante minha primeira visita a Darjeeling, hospedei-me na mesma casa com vários teosofistas, todos candidatos tão ardentes quanto eu ao Chelado e a maioria deles tão cheios de dúvidas com relação aos Mahatmas do Himalaia quanto eu mesmo estava naquela época.

Encontrei em Darjeeling pessoas que reivindicavam serem chelas dos Irmãos do Himalaia e terem visto e vivido com eles durante anos. Riam diante de nossa perplexidade. Um deles mostrou-nos um retrato, admiravelmente bem executado, de um homem que parecia ser uma pessoa eminentemente santa e que, foi-me dito, era o Mahatma Koothoomi (agora meu venerado Mestre), a quem o livro do Sr. Sinnett O Mundo Oculto é dedicado. Poucos dias após minha chegada, um mascate tibetano chamado Sundook veio casualmente até nossa casa para vender suas coisas. Sundook era bem conhecido há anos em Darjeeling e nas vizinhanças como um comerciante itinerante de bugigangas tibetanas, e visitava o país todos os anos no exercício de sua profissão.

Ele veio à casa várias vezes durante nossa estadia ali e nos parecia, por sua simplicidade, comportamento digno e maneiras aprazíveis, ser um homem naturalmente cavalheiro. Ninguém podia descobrir nele qualquer traço de caráter que fosse, mesmo remotamente, aliado aos selvagens incivilizados, como os tibetanos são considerados pelos europeus. Ele poderia muito bem ter passado por um cortesão treinado, exceto pelo fato de que era muito bom para ser um deles. Veio até a casa enquanto eu estava lá. Na primeira ocasião estava acompanhado por um jovem goorkha, chamado Sundar Lall, empregado do escritório do jornal Darjeeling News, e que cumpria a função de intérprete. Mas logo percebemos que o dialeto peculiar do híndi que ele falava era inteligível para alguns de nós sem qualquer intérprete e, assim, não houve necessidade de ninguém mais nas ocasiões seguintes.

No primeiro dia fizemos algumas perguntas gerais a ele sobre o Tibete e a seita Gelugpa, à qual disse que pertencia, e suas respostas corroboraram as afirmações de Bogle, Turnour e outros viajantes. No segundo dia perguntamos se tinha ouvido falar de alguma pessoa no Tibete que possuísse poderes extraordinários, além dos grandes lamas. Disse que tais homens existiam.

Que não eram lamas regulares, mas muito superiores a eles, e que viviam geralmente nas montanhas – mais além de Tchigatze e também nas proximidades da cidade de Lhassa. Estes homens, disse, produzem muitos e maravilhosos fenômenos ou “milagres” e alguns de seus chelas, ou lótus como são chamados no Tibete, curam os doentes dando-lhes para comer o arroz que eles descascaram com suas próprias mãos, etc. Então um de nós teve uma idéia gloriosa.

Sem dizer uma palavra, o retrato acima mencionado do Mahatma K.H. foi-lhe mostrado. Ele olhou por alguns segundos e, então, como se subitamente o reconhecesse, fez uma profunda reverência ao retrato e disse que era a imagem de um Chohan (Mahatma) que ele havia visto. A seguir começou a descrever rapidamente a vestimenta do Mahatma e os seus braços nus; adequando a ação à palavra, tirou sua capa e descobrindo seus braços até os ombros, fez a aproximação mais exata possível à figura do retrato, no que diz respeito a sua vestimenta.

Disse que havia visto o Mahatma em questão acompanhado por um grupo numeroso de gylungs, mais ou menos na mesma época do ano anterior (início de outubro de 1881) num lugar chamado Giansi, dois dias de viagem ao sul de Tchigatze, e onde o narrador tinha ido fazer compras para seu comércio. Ao ser inquirido sobre o nome do Mahatma, disse, para nossa enorme surpresa: “Eles são chamados “Koothum-pa”. Sendo interrogado minuciosamente e perguntado o que queria dizer com “eles”, e se estava nomeando um homem ou muitos, respondeu que Koothum-pas eram muitos, mas havia apenas um homem ou chefe entre eles com este nome; os discípulos são sempre chamados pelo nome de seu guru.

Daí que, sendo o nome do último Koot-hum, o de seus discípulos era “Koothum-pa”. Um dicionário tibetano lançou luz sobre esta explicação – encontramos que a palavra “pa” significa “homem”,; “Bod-pa” é um “homem de Bod ou Tibete”, etc. Analogamente, Koothum-pa significa homem ou discípulo de Koothoom ou Koothoomi. Em Giansi, disse o mascate, o mercador mais rico do lugar foi ver o Mahatma, que havia parado para descansar no meio de um extenso campo, e pediu-lhe para abençoá-lo acompanhando-o a sua casa.

O Mahatma respondeu que estava melhor naquele mesmo lugar, porque tinha que abençoar todo o mundo e não algum homem em particular. O povo, entre eles nosso amigo Sundook, levou suas oferendas ao Mahatma, mas ele mandou que as distribuíssem entre os pobres. Sundook foi aconselhado pela Mahatma a desempenhar seu comércio de maneira a não prejudicar ninguém, e ele advertiu-o de que esta era a única maneira correta de prosperar.

Ao ser-lhe dito que o povo da Índia recusava-se a acreditar que havia tais homens como os “Irmãos” no Tibete, Sundook ofereceu-se para levar qualquer testemunha voluntária àquele país e convencer-nos, através da mesma, quanto à veracidade da sua existência, e declarou que se não houvesse tais homens no Tibete, gostaria de saber onde eles poderiam ser encontrados.

Ao ser-lhe sugerido que algumas pessoas recusavam-se a acreditar que tais homens de fato existem, ele ficou muito zangado. Arregaçando as mangas de sua capa e da camisa e descobrindo um braço fortemente musculoso, declarou que lutaria com qualquer homem que sugerisse que o que ele havia dito não era a verdade. Ao ser-lhe mostrado um curioso rosário de contas pertencente à Sra. Blavatsky, o mascate disse que o mesmo apenas podia ser obtido por aqueles a quem o Tesshu Lama presenteasse, uma vez que não podiam ser comprados por qualquer quantidade de dinheiro em parte alguma.

Quando o chela que estava conosco vestiu seu casaco sem mangas e perguntou-lhe se ele reconhecia sua profissão através de sua vestimenta, o mascate respondeu que ele era um “Gylung” e, então, curvando-se para ele, encerrou o assunto. As testemunhas, neste caso, foram babu Nobin Krishna Bannerji, submagistrado de Berhampore; M.R.Ry. Ramaswamier Avergal, arquivista distrital, Madura (Madras); o cavalheiro Goorkha já referido, toda a família do primeiro cavalheiro mencionado e quem escreve.

Agora, a outra parte da evidência comprobatória. Desta vez ela chegou-me de forma bastante acidental. Um jovem brahmachari bengali, que havia chegado pouco antes do Tibete e estava residindo então [em Dehradun, nas Províncias do norte da Índia] na casa do pai de meu sogro – o venerável babu Devandra Nath Tagore da Brahmo Samaj – fez muito inesperadamente, na presença de diversas testemunhas respeitáveis, as seguintes declarações: No dia 15 do mês bengali de Asar último (1882), doze dias depois da lua crescente, ele encontrou alguns tibetanos chamados Koothumpas com seu Guru num campo próximo a Taklakhar, um lugar a cerca de um dia de viagem do Lago de Manasorowara.

O Guru e a maioria de seus discípulos, que eram chamados gylungs, vestiam casacos sem mangas por sobre uma roupa de baixo vermelha. A pele do Guru era bastante clara e seus cabelos não eram repartidos, mas penteados para trás e caiam até seus ombros. Quando o brahmachari viu o Mahatma pela primeira vez ele estava lendo um livro – o qual, segundo foi-lhe informado por um dos gylungs, era o Rig Veda. O Guru cumprimentou-o e perguntou-lhe de onde vinha. Ao verificar que ele nada tinha para comer, o Guru ordenou que lhe dessem algum cereal (Sattoo ) e chá.

Como o brahmachari não conseguia fogo para cozinhar sua comida, o Guru ajudou-o ateando fogo a algo como uma torta de esterco seco – o combustível usado tanto naquele país como neste – simplesmente assoprando sobre ela, e passou-a para o brahmachari. Este último assegurou-nos que, com frequência, testemunhou o mesmo fenômeno produzido por outro Guru ou Chohan, como são chamados no Tibete, em Gauri, um lugar distante um dia de viagem da caverna de Tarchin, no lado norte do Monte Kailas. O guardador de um rebanho, que estava sofrendo de febre reumática, veio ver o Guru, que lhe deu alguns grãos de arroz descascado, que o Guru tinha em sua mão, e o homem doente ficou curado ali mesmo. Antes de separar-se dos Koothumpas e seu Guru, o brahmachari soube que eles estavam indo participar de um festival realizado às margens do Lago Manasarowara e de lá pretendiam dirigir-se para as montanhas Kailas.

As declarações acima foram repetidas diversas vezes pelo brahmachari na presença, entre outros, do babu Dwijender Nath Tagore, de Jorasanko, Calcutá; babu Cally Mohan Ghose, do Instituto de Trigonometria da Índia, Dehradun; babu Cally Cumar Chatterjee do mesmo lugar; babu Gopi Mohan Ghosh, de Dacca; babu Prya Nath Sastri, secretário do babu Devendernath Tagore, e quem escreve. Comentários aqui pareceriam quase supérfluos e os fatos podem muito bem falar por si mesmos a um júri justo e inteligente. Mas a aversão das pessoas a ampliar seu campo de experiência e as interpretações conscientemente falsas feitas por alguns não têm limites.

A natureza das evidências citadas aqui é consistente. Ambas testemunhas foram encontradas totalmente ao acaso. Mesmo que se admita, o que certamente não fazemos nem por um momento, que o mascate Sundook tenha sido entrevistado por algumas pessoas interessadas e induzido a contar uma inverdade, qual teria sido o motivo do brahmachari, alguém que pertence a um corpo religioso conhecido por sua honestidade e não tendo idéia alguma do interesse que quem escreve tinha por tais coisas, para inventar um romance, e além disso, como ele pôde fazê-lo adequar-se exatamente às afirmações do mascate tibetano do outro lado do país? Pessoas pouco educadas estão, sem dúvida, propensas a enganar-se em muitos assuntos, mas estas declarações trataram apenas de fatos diferentes surgidos dentro do alcance dos olhos e ouvidos do narrador, e nada têm a ver com seu julgamento ou opinião.

Assim, quando a declaração do mascate é cotejada com a do brahmachari de Dehradun, não há, de maneira alguma, lugar para qualquer dúvida em relação à veracidade de ambos. Pode-se mencionar aqui que a declaração do brahmachari não foi resultado de uma série de perguntas que induzissem a determinadas respostas, mas formou parte da narrativa que ele voluntariamente fez de suas viagens durante o ano, e que ele desconhece quase totalmente a língua inglesa e nunca havia, segundo meu melhor juízo, sido informado e acreditado e nem sequer ouvido falar em Teosofia.

Portanto, se alguém recusar-se a acreditar os testemunhos – que se corroboram mutuamente, mas são independentes – do mascate tibetano de Darjiling e do brahmachari de Dehradun, com o argumento de que eles sustentam a autenticidade de fatos que estão fora do domínio de sua experiência pessoal, tudo que posso dizer é que isto é o próprio milagre da insensatez. Por outro lado, é um fato firmemente estabelecido a partir dos testemunhos de inúmeros de seus chelas, que o Mahatma Koothoomi é uma pessoa viva como qualquer um de nós e que, além disso, foi visto por duas pessoas em duas ocasiões diferentes. Isto irá, pode-se esperar, esclarecer para sempre as dúvidas daqueles que acreditam na autenticidade dos fenômenos ocultos, mas atribuem-nos à ação de “espíritos”.

Devo assinalar ainda outra circunstância. Pode-se argumentar que durante a estadia do mascate em Darjiling a Sra. Blavatsky também encontrava-se lá, e quem sabe, poderia tê-lo subornado (!!) para dizer o que disse. Mas isto não pode ser argumentado no caso do brahmachari de Dehradun. Ele não conhecia nem o mascate nem a Sra. Blavatsky, nunca tinha ouvido falar no Coronel Olcott, tendo recém regressado de sua prolongada viagem, e não fazia idéia alguma de que eu era membro da Sociedade. Seu testemunho foi inteiramente voluntário.

Alguns outros que admitem a existência dos Mahatmas, mas dizem que não há provas de sua relação com a Sociedade Teosófica, teriam satisfação em ver agora, que não há uma impossibilidade a priori de que aquelas grandes almas se interessassem por uma Sociedade benéfica como a nossa. Propositadamente deixo de lado todas as provas que já se encontram diante do público. Cada prova é conclusiva em si mesma e o efeito cumulativo de todas é simplesmente irresistível.(i)

Mohini M. Chatterji


(i)Theosophist, dezembro de 1883.


1   Respostas em Os Irmãos do Himalaia - Eles realmente existem?

  1. maria amelia disse:

    obrigado assunto atual e maravilhoso!!!!

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