Jardim dos Mestres

O Processo de Desencarne

No início de fevereiro de 1977, o Mestre já previa seu funeral. Indo até o centro da cidade do México de carro, com um de seus discípulos, comentou que havia visto em astral Krishnamurti morto, e que esse discípulo estava em uma caravana fúnebre. Observou que tinha uma ligação com Krishnamurti, e tudo que acontecia com um, acontecia também com outro. Acrescentou que não temia a morte, pois ela sempre fora uma grande amiga para ele ao longo dos tempos.

Quando as dores se tornaram mais forte e ele não conseguia dormir à noite, descansava sentado em uma poltrona, e às vezes no chão gemendo de dor. Alguns amigos e familiares pediam para que tentasse dormir. Mas, com muita paciência, ele pedia para que não se preocupassem com ele, explicando que precisava se queixar para se acalmar um pouco.

Quase todas as noites, deitava-se no chão com os pés apoiados na cama e, sorrindo, dizia que era um jeito esquisito de se descansar, mas que fazia muito bem a ele.

Às vezes, jogava-se no chão e pedia para que o deixassem ali, porque queria sentir-se como um cachorro e queria se acostumar com tudo.

Sentia-se melhor quando seus netos estavam por perto. Dizia que as crianças representavam a luz da inocência e lhe traziam bem-estar.

Apesar das dores que sentia, nunca deixava o bom humor de lado e costumava falar: “Depois de mim, que Roma pegue fogo!”

Sua enfermidade nunca teve um diagnóstico exato. Médicos de 12 diferentes especialidades atenderam o Mestre durante todo o seu processo, sem jamais terem descoberto e compreendido a causa de seu mal.

Em setembro de 1977, os problemas de saúde se intensificam. Embora sentisse muita dor, a doença não lhe impediu de seguir trabalhando ativamente. Em 9 de setembro de 1977, fez uma conferência para os políticos e diplomatas sobre o Cristo Quetzalcoatl. A conferência durou 14 minutos e o Mestre fez um tremendo esforço e sacrifício para permanecer até o final, por conta da dor ocasionada pela doença. Em 8 de novembro, faz sua última conferência.

Em dezembro sua enfermidade se agrava bastante. Era comum escutar o Mestre dizer: “Não se apeguem ao meu maltratado corpo; fixem-se em meu corpo de doutrina. Escutar a mensagem e vivê-la é o mais indicado para aqueles que querem ser salvos.”

Um discípulo perguntou várias vezes ao Mestre sobre o que aconteceria com o Movimento Gnóstico Internacional e os Planos da Grande loja Branca para a humanidade.

O Mestre respondeu: “Permanecei firmes. Sempre estarei convosco. Minha retirada é temporária. Haverá confusão entre os irmãozinhos. Lutarão pelo poder e pelo dinheiro. Porém, eu voltarei. Tenho uma múmia egípcia em perfeito estado de conservação e a utilizarei para terminar o plano de salvação mundial. Eu regressarei porque tenho que concluir os três últimos trabalhos de Hércules, correspondentes à Montanha de Ascensão. E tenho que voltar porque tenho que separar o Exército de Salvação Mundial no meio da fumaça, das chamas, das guerras e das catástrofes naturais, para levá-los a um local seguro.”

Um mês antes de morrer, o Mestre orientou sua filha e um de seus discípulos, que estavam sentados à beira de sua cama, para que tomassem cuidado com a prova da obediência. E narrou-lhes: “Um mestre tinha três alunos, os quais decidiu provar na obediência. Levou-os à beira de um abismo e ordenou que saltassem, garantindo que ele os salvaria da queda. Veio o primeiro, tomou impulso para pular, mas, quando chegou à borda, recuou. Veio o segundo, nem tentou saltar argumentando que não tinha tanta fé assim no poder do mestre. Tendo chegado a vez do terceiro aluno, quando este estava a ponto de saltar, o mestre gritou: Não pule! Você é o meu verdadeiro aluno!”

No dia 23 de dezembro de 1977, um dia antes de falecer, todos estavam inquietos. O Mestre não queria mais comer, nem tomar os remédios. Com muita paciência e jeito, sua esposa conseguiu fazer com que ele tomasse um caldo de galinha.

Durante o processo de desencarnação do Mestre, um médico buddhista japonês foi visitá-lo no hospital. O Mestre repousava enquanto esse médico, acompanhado de um tradutor, o examinava. Após ter saído da sala, o Mestre acordou e ficou sabendo da presença desse médico. Solicitou então a um de seus discípulos que pedisse ao médico para voltar porque queria falar com ele. O médico ajoelhou-se diante do Mestre, sentado em uma poltrona, e pondo sua mão sobre o ventre dele, começaram a conversar fluentemente em japonês, mesmo o Mestre não tendo estudado essa língua antes.

O Mestre jamais pediu e tampouco concordou em ser levado ao hospital quando teve início o seu Drama da Paixão. Seu anelo pessoal era o de ser levado ao Tibete. Todavia, por razões sentimentais e familiares, sua esposa e filhos levaram-no ao hospital e autorizaram os médicos a fazerem uma cirurgia de estômago.

Durante todo o processo de doença e morte do Mestre, muitos missionários e dirigentes entravam em contato para saberem do seu estado de saúde. Um dia, o Mestre perguntou o que os estudantes diziam sobre o processo que ele estava vivendo. Seu secretário respondeu que, em um dos chamados, indagavam que, se o Mestre podia curar tantas pessoas, por que não conseguia curar a si mesmo?

O Mestre então comentou que se lembrava do que haviam dito a Jesus: “Se és Filho de Deus, desce da cruz e salva- te!”. Acrescentou que isso era uma prova terrível para o orgulho do iniciado que, de fato, havia curado muita gente, e agora só o Pai poderia lhe curar.

Quando o Mestre estava no hospital, um de seus discípulos foi visitá-lo e ficou com ele enquanto sua esposa se retirou. O Mestre pediu para que o discípulo o ajudasse a sentar-se na única poltrona que havia no quarto. O discípulo, apoiando a cabeça do Mestre no lado esquerdo do peito, começou a ter experiências místicas, sendo arrebatado em êxtase. Logo depois, a enfermeira entrou no quarto e ele voltou ao estado de vigília.

Aos 60 anos de idade, no dia 24 de dezembro de 1977, o Mestre abandona seu corpo. Para que todo o processo fosse concluído com perfeição, de acordo com a vontade do Mestre, foram dadas orientações claras ao Dr. Jacinto Juárez, médico e um de seus mais fiéis discípulos, para que assumisse o compromisso de manter o corpo intacto durante três dias. Graças a esses cuidados tomados e à confiança e fidelidade do médico, foi possível concluir a mudança dos átomos para o corpo egípcio com êxito.

No dia 24 de dezembro de 1977, aproximadamente às 23 horas, por indicação expressa da esposa do Mestre, foi realizado o Ritual de Ressurreição. Naquela cerimônia, a esposa do Mestre esperava receber um sinal que viesse a indicar se ele ressuscitaria com o corpo que tinha no México ou se continuaria sua obra com o corpo egípcio. Depois de transcorridas as várias etapas do rito, repentinamente escutaram a voz de Hypatia, em tom muito nervoso, exclamando: “Meus Deus! Samael!”. Todos abriram os olhos e viram que as pálpebras do Mestre se abriram lentamente, voltando a se fechar em seguida e tornando a abrir e a fechar por uma segunda e última vez.

Quando as pálpebras se fecharam definitivamente, uma lágrima de sangue começou a escorrer do olho direito do Mestre, deslizando por sua face. Arnolda correu até uma pequena mesa que havia no aposento, tomou um pedaço de algodão e enxugou a última lágrima de sangue de seu amado esposo.

Logo após o comunicado do desencarne do Mestre, sua esposa, acompanhada por um dos discípulos, foi até sua casa buscar a túnica de Cavaleiro do Santo Graal, a espada ritualística e as sandálias, usadas em vida pelo Mestre. Na volta para casa de sua filha Hypatia, notaram que no céu havia um círculo de nuvens, com um grupo de estrelas no centro, justamente sobre o local. Entraram e se dirigiram ao segundo andar, onde começaram a observar a posição e detalhes do corpo do Mestre. Perceberam que as articulações dos dedos de suas mãos mantinham-se flexíveis e que seu rosto não adquirira nenhuma expressão cadavérica; pelo contrário, possuía a suavidade dos santos. Em seguida, a esposa do Mestre e suas filhas trataram de vestir o corpo com a túnica de Cavaleiro do Santo Graal.

O carro fúnebre era da mesma cor azul celeste utilizada nas vestes ritualísticas da Segunda Câmara. O uniforme dos motociclistas da polícia militar também era da mesma cor. Casualmente, os policiais formavam a figura da estrela flamígera de cinco pontas, com o carro no centro, abrindo caminho para a caravana pelas principais avenidas da capital do México. Porém, o dado mais insólito e surpreendente era a placa do carro: 426-AUM. A soma dos números é 12, que corresponde ao arcano do Apostolado. AUM, a própria sílaba sagrada.

Após o corpo do Mestre ter sido levado à capela de San Fernando, na cidade do México, uma missionária dos EUA, com o rosto banhado em lágrimas, começou a chamar em voz alta Samael pedindo que ele se manifestasse, caso ele estivesse ali. Depois de sua evocação, os objetos de vidro presentes no quarto onde Samael havia ficado começaram a explodir, e a missionária sentiu-se em paz.

Em 25 de janeiro de 1977, o Mestre havia tido uma visão de que estava deitado num caixão branco. Após a sua morte, o corpo foi enviado à Capela de San Fernando, e todos ficaram surpresos ao vê-lo deitado em um ataúde branco como o da visão. E o mais surpreendente: os caixões brancos eram fabricados apenas para crianças; e o corpo do Mestre, para os padrões mexicanos, era considerado gigante. Muitos ficaram imaginando onde os funcionários do serviço funerário haviam conseguido arrumar aquele caixão, em plena noite de Natal, sem terem sido informados de quem era o corpo falecido e muito menos da visão que o Mestre tinha tido.

Durante os três dias em que foi velado o corpo do Mestre, foi oficiada diariamente a Missa Gnóstica. Como altar, foi usado, simbolicamente, o próprio ataúde onde jazia o corpo de Samael. Nas três celebrações também foi utilizado o cálice sagrado que pertencera ao Mestre e por ele era usado em seus ofícios litúrgicos. Do vinho desse cálice beberam, nesse período, estudantes e dirigentes gnósticos de diversas partes do mundo, que vieram ao México acompanhar os últimos momentos do Drama Cósmico do Cristo de Aquário.

Um de seus discípulos, no terceiro dia do velório, pegou a mão do Mestre e percebeu que ela estava morna, as articulações dos dedos flexíveis. E, quando beijou sua fronte, sentiu os lábios como se fossem pétalas de rosas.

No dia 28, apresentaram-se quatro soldados da polícia vestidos de gala. Eles começaram a montar a guarda de honra nas primeiras horas da manhã ao redor do corpo do Mestre. Pouco antes do translado para o Panteão das Dores, apresentaram-se os repórteres do “24 Horas”, o melhor periódico da imprensa mexicana na época.

O dia 28 de dezembro de 1977 é uma data memorável para todos os estudantes da doutrina do Mestre Samael. Nesse dia, o corpo do Mestre foi transladado do velório de San Fernando ao crematório do Panteão das Dores. O corpo desceu ao piso inferior do crematório, onde o encarregado do forno certificou-se de que o corpo não estava em estado cataléptico. Mais tarde, um discípulo do Mestre dirigiu os olhos para a chaminé do crematório e pôde ver então uma sutil nuvem branca, a ganhar altura num suave desenho serpentino.

Alguns dias depois da morte do Mestre, sua esposa foi até o quarto que funcionava como escritório do marido. Lá abriu uma urna marrom e dela retirou o saquinho com as cinzas do corpo do Mestre, dizendo a um de seus discípulos: “Veja a que ficou reduzido o avô!”. O saquinho estava morno e macio.

Depois de uns dois meses de sua morte, um dos secretários encontrou nas coisas do Mestre um registro onde ele revelava saber, há mais de 20 anos, a data em que iria desencarnar.

As cinzas do corpo do Mestre ficaram guardadas em um canto do quarto de sua esposa até que fossem jogadas ao mar. Nesse período, sempre havia uma vela acesa ao lado da urna. Durante todo esse tempo, as cinzas permaneceram quentes, mesmo no inverno, e a chama da vela cambaleante, ainda que não houvesse qualquer corrente de ar dentro do quarto.

Em vida, o Mestre sempre manifestou o desejo de que, quando morresse, seu corpo deveria ser incinerado e as cinzas espalhadas no Mar do Caribe. Assim, no início de 1978, sua esposa, familiares e alguns discípulos seguiram para a Colômbia. Passaram por Bogotá, foram até Ciénaga, passagem obrigatória para chegar ao SSS, em Serra Nevada de Santa Marta, onde realizaram uma Missa em memória do Mestre.

No dia seguinte à celebração no SSS, retornaram a Santa Marta, cidade de belas praias banhadas pelas águas cristalinas do Caribe. Junto com alguns dirigentes gnósticos dessa cidade, saíram em busca de um barco que pudesse transportar as cerca de 60 pessoas que acompanhariam a cerimônia do lançamento das cinzas do Mestre no Mar do Caribe.

A família havia decidido que as cinzas do corpo de Samael fossem jogadas em alto mar. Assim, a viagem foi planejada com uma pequena parada numa ilha, para descanso, de onde rumariam para o alto mar.

Enquanto descansavam na ilha, a terra começou a tremer, obrigando-os a partir imediatamente. Depois desse inusitado episódio, navegaram algum tempo por mar sereno. Enquanto navegavam, a natureza mudava rapidamente. O céu tornou-se anuviado, o vento começou a soprar forte e as águas se agitavam intensamente. Nessa hora, a esposa do Mestre sacou a urna com as cinzas, espalhando-as aos quatro pontos cardeais. Num certo momento, o vento jogou um punhado de cinzas na boca de um dos discípulos.

Espalhadas as cinzas, surpreendentemente, a natureza se acalmou, o vento parou de soprar, o mar se tranquilizou e o sol voltou a brilhar intensamente.

Ficou na memória a sua figura altaneira, de voz e presença poderosas. Aqueles que o conheceram pessoalmente são unânimes em reconhecer duas virtudes principais do Mestre: simplicidade e amor.


28 de fevereiro de 2013

0   Respostas em O Processo de Desencarne

Deixe sua mensagem

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *