Jardim dos Mestres

A Ilusão do Status e da Posição Social

 

Somos escravos do desejo de fama, de poder, de status, de admiração, de adoração, de aceitação.

É muito interessante observar como fantasiamos a nossa realidade profissional, social. Orgulhamo-nos, envaidecemo-nos por nossas posições sociais, nossos cargos.

Quando encontramos alguém, não perdemos a oportunidade de falar onde trabalhamos, sobre o nosso cargo, nossas atribuições. Temos uma necessidade crônica de mostrar aos outros que estamos bem, de projetar nossas fantasias para o mundo.

Segundo nossos conceitos, e os conceitos da sociedade, de um modo geral, uma pessoa que ocupa um cargo de destaque, que trabalha em empresa de grande porte, que mora em bairro nobre, é uma pessoa de sucesso, alguém importante, admirado.

Inseridos na ilusão do mundo, cegos pelo desejo, pela auto-adoração, não conseguimos enxergar a realidade. Em verdade, nem queremos ver a realidade.

Como já mencionado anteriormente, somos todos escravos do desejo de fama, de status, de admiração, de adoração, de aceitação.

Somos todos escravos dos conceitos da sociedade, da mídia. Corremos atrás destes falsos brilhantes sem sequer perguntarmo-nos por quê. Distantes da realidade, conquistamos ouro de tolo com a sensação de termos conquistado ouro maciço.

A mídia, a sociedade, os pais, todos nos dizem o tempo todo: estude nas melhores escolas, seja importante, um profissional de sucesso, famoso; mostre seu valor, esforce-se, realize seus sonhos. É isso que todo mundo quer. Seja competente, seja necessário, faça a diferença! Estimulam a competição e a disputa. Somos atirados ao ringue. Como conseqüência, pagamos o preço de conviver com a inveja, com a auto-cobrança, o ódio, a discórdia, a frustração, a insatisfação, o descontentamento. E vamos passando isso adiante, sem questionar.

As escolas são classificadas, os alunos são classificados. Aqueles que obedecem, que conseguem se adequar mais e melhor aos padrões, aos interesses dos poderosos, aqueles que estão fascinados pela ração e bom pasto, são os bons bois, os bois que seguem felizes e contentes para o abatedouro. As empresas buscam seus profissionais dentro desta classificação. Ingenuamente, as pessoas são tomadas de orgulho e vaidade, e buscam, com todas as suas forças, o preparo necessário para atender tais interesses.

Assim, vivem uma fantasia em função de seu status, orgulhosas e vaidosas de sua posição social, cargos, títulos. Não percebem, e não querem perceber, que estão escravizadas. Não percebem que estão numa senzala de luxo, até porque não suportariam tal idéia. Não percebem que estão fazendo o que não querem, o que não gostam, apenas para obter a cenoura que alguém pendurou na ponta da vara. Não há vantagem alguma em o ser chefe da senzala ou o líder de um grupo de escravos. Não é motivo de orgulho ou vaidade ser o escravo que dirige o carro de boi, ao invés do que corta cana; ser o capitão do mato, ao invés do escravo comum. A escravidão é a mesma.

Antigamente, os escravos eram obrigados a fazer determinadas tarefas. Para cada tipo de tarefa era necessária uma determinada aptidão. Assim, os poderosos escolhiam os escravos a serem comprados a partir da análise de determinadas características.

Atualmente, podemos, de certa forma, escolher a tarefa que vamos fazer. Mas devemos nos preparar para essa tarefa, devemos desenvolver as aptidões necessárias. Uma vez que, nos dias de hoje, o número de vagas é limitado e existem muitos pretendentes, os poderosos escolhem os pretendentes a partir de uma análise um pouco mais complexa e criteriosa.

Como foi muito bem alegorizado no filmes Matrix e A Ilha, em um dado momento, alguém percebe que as pessoas trabalham mais e melhor quando existe algum tipo de esperança, de expectativa, por mais ilusórias que estas possam ser. Da mesma forma, em nosso dia-a-dia, somos estimulados pela esperança, pela expectativa de comprar nossas próprias roupas, nossa própria casa, nosso próprio carro, de conquistar status, fama, poder, de ter diversões, sensações de prazer, férias, qualidade de vida, viagens. Enfim, somos movidos pela ilusão de sermos livres, de fazermos o que quisermos, ainda que por alguns momentos. E, estas esperanças, estas expectativas, são permanentemente incentivadas, para que a máquina humana produza e consuma cada vez mais.

Ninguém sofre por sofrer, ninguém permanece em uma situação de sofrimento sem que exista nela algum tipo de prazer, sem que estejam em cena a sensação de prazer momentâneo ou, sobretudo, a expectativa de prazeres futuros. E estas expectativas de sensações de prazeres futuros acabam por nos cegar, por embotar nossas mentes, tornando-nos prisioneiros de uma ilusão.

A verdadeira qualidade de vida, as verdadeiras férias, os verdadeiros refúgios, estão na mente e no coração tranqüilos do sábio, do liberto dos desejos.

A ameaça de ir para o tronco ainda ecoa pelos ares, sendo que os castigos de hoje se dão muito mais na esfera psicológica do que na física, e a crueldade desse tipo de castigo talvez seja ainda maior. Paralelamente, também ecoa a vaga esperança de escapar para algum quilombo.

As barras das prisões, as paredes, as correntes, foram trocadas pelo aprisionamento das mentes, cultivando e desenvolvendo o desejo, o apego, a esperança, a expectativa, o sonho, a fantasia. E o resultado disto é muito mais devastador do que as prisões, as paredes, as correntes. Por uma tola ilusão, muitos de nós ainda trocamos as barras e as correntes de ferro das prisões psicológicas por barras de ouro, que passamos a adorar.

Fábio Ferreira Balota


31 de outubro de 2014

2   Respostas em A Ilusão do Status e da Posição Social

  1. Sérgio Quintiliano disse:

    Este texto é de uma lucidez ímpar! Parabéns ao seu autor. Acabou de ganhar um seguidor. Por favor, continue a brindar-nos com este tipo de textos. O meu espírito agradece. Forte abraço

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