O dharma é o dever de cada um. Este dever depende da natureza de cada um, ou da casta a qual pertence. O que é correto e moral para um, pode ser ou é incorreto e imoral para outros.
Todos devem manter o dharma e a melhor forma de manter o dharma é dar o exemplo.
Quando se fala em dharma, o matar aparece com um dos pontos mais discutidos. Para um Kshatriya, para um guerreiro, não matar quando deve matar é negligenciar seu dharma, o que geraria um pesado karma. Já para um Brâmane, para um sacerdote, o matar é absolutamente errado. Assim, a ação e seu resultado dependem da natureza e do papel de cada um.
Em um determinado momento do Ramayana, quando Sita e Rama estavam vivendo entre os Brâmanes, Sita diz para Rama depor as armas e viver como um Brâmane entre os Brâmanes. Então Rama diz que não poderia fazer isso, pois este era seu dharma.
Segundo esta filosofia, aquele que tem o maior poder deve pratica o maior autodomínio, que é um tema sempre recorrente no Ramayana. Rama é um guerreiro e é virtuoso, nobre, não é um bárbaro.
Exercer o dharma, é o fazer o que deve ser feito, custe o que custar, é o cumprir a palavra, custe o que custar. Exercer o dharma é fazer seu dever com boa vontade e alegria, é ser capaz de renunciar o que deve ser renunciado e suportar o que deve ser suportado.
Outra fala interessante é a de Dasharata, grande rei, pai de Rama: “’Sabeis bem que por muitos anos tenho governado este império, sendo um pai para aqueles que nele vivem’. Sem pensar em minha própria felicidade, tenho passado meus dias governando de acordo com o dharma.”
Exercer o dharma é o ideal de Karma-Yoga. O dharma de todos nós é servir e o ideal do servir é o serviço desinteressado, o serviço que não deseja e nem repudia os resultados da ação.
Existe então o dharma do sacerdote, o dharma do guerreiro, do comerciante, do político, do médico, do professor, do marido e da esposa, do pai e da mãe, do filho e da filha, do instrutor e do aluno…
Numa outra passagem Sita quer seguir Rama, ele tenta argumentar e ela diz: “… um pai, mãe, filho, irmão ou cunhada age de acordo com o resultado de suas próprias ações. Mas uma esposa, ó melhor dos homens, partilha a sorte de seu marido… Se vais para lá, eu irei antes de ti, andando sobre abrolhos e capim espinhoso. Serei tão feliz ali como em casa de meu pai, pensando apenas em servir-te. Não te causarei incômodos, mas viverei de raízes e frutos. Eu te precederei na caminhada e comerei depois de ti. E haverá esplêndidas lagoas com gansos selvagens e outras aves e com flores de lótus bem abertas, onde poderemos nos banhar. Serei feliz contigo, mesmo por cem ou mil anos!”
Sobre o Dharma
A palavra Dharma é usada no oriente com o sentido de “dever”, “tarefa”, “conduta reta”, “lei”, “direito”, “caminho da justiça”.
Colocar em prática o Dharma não é algo tão simples como imaginamos.
No Mahabharata, Bishma, considerado avô dos pândavas e dos káuravas, escolheu renunciar o reinado por compaixão a seu pai e o resultado dessa escolha foi a guerra. Assumir o reino era seu Dharma.
Mestre Samael conta que em uma de suas encarnações na idade média, foi membro de uma família aristocrata e que na época tinha uma irmã que se enamorou de um rapaz pobre e desse relacionamento nasceu um menino. A irmã preferiu levar uma vida independente porque conhecia a lingua viperina das damas elegantes daquela sociedade. Por piedade do sobrinho, o Mestre decidiu interná-lo em um colégio para que estudasse e que um dia pudesse se tornar um grande senhor. O resultado de sua ação piedosa gerou o afastamento do menino de sua mãe.
Isso mostra mais uma vez que cumprir o Dharma não é tão simples como imaginamos, é necessário reflexão. Ensina-nos o Mestre que às vezes por nos faltar a piedade nos tornamos desapiedados, com a intenção de fazer o bem fazemos o mal, praticamos o delito.
Se cumprir o Dharma fosse algo simples, que não houvesse a necessidade de estudarmos, todas as pessoas que colocam um filho no mundo e lhe dá de comer estaria cumprindo seu Dharma. Claro que, como pai e como mãe, sustentar um filho faz parte de seu Dharma. Mas ser mãe, ser pai, é muito mais que isso. O Dharma vai além daquilo que imaginamos ser um bom pai, uma boa mãe, um bom marido, uma boa esposa, um bom chefe de família, um bom filho, etc., cumprir o Dharma vai muito além do que a sociedade nos mostra.
No Mahabharata, Iudístira, o rei pândava, quando convidado ao jogo de dados, mesmo sabendo de sua deficiência, não se negou a participar, porque fazia parte do Dharma de um rei aceitar o jogo.
Perdeu tudo que possuia no jogo e foi exilado. Então aproveitou esse tempo para suprir essa deficiência e tornou-se mestre na arte. Buscar, correr atrás e aprender a técnica fazia parte de seu Dharma.
Existe o amor e o serviço do guerreiro, o amor e o serviço do lixeiro, o amor e o serviço do religioso, cada um ama e serve segundo o seu Dharma.
Servir é cumprir o papel que nos cabe nesse mundo, sejamos pedreiros, lixeiros, médicos, donas de casa ou pais de família.
Para servir devemos conhecer nossos deveres, o papel que nos cabe, a forma como deveríamos amar e servir. Não podemos ser como o rei cego que levou a ruína o próprio reino por não assumir uma postura firme de rei, por não saber assumir seu Dharma.
É chegada a hora de olharmos para nós mesmos. Podemos nos comportar como cegos, mas é muito melhor nos sacrificarmos nesse mundo do que sermos sacrificados nos mundos inferiores.
Aproveitando a reflexão sobre o Dharma fica uma pergunta: Qual é o Dharma do estudante de Gnose?
É o de servir desinteressadamente à humanidade. Como diz no texto: “O dharma de todos nós é servir e o ideal do servir é o serviço desinteressado, o serviço que não deseja e nem repudia os resultados da ação”.