Todas as grandes religiões falam de regras morais e ética, todas falam sobre o que devemos cultivar, desenvolver e o que devemos evitar, eliminar.
No Cristianismo temos os Dez Mandamentos, trazidos por Moisés e reforçado pelo Cristo Jesus com o ensinamento “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Também no Cristianismo temos os Sete Pecados Capitais, os quais devemos evitar e eliminar.
São Tomás de Aquino (1225-1274) compilou sete das nossas maiores faltas em um grupo, que denominou Os Sete Pecados Capitais. Estes pecados, dos quais muitos outros derivam, são: a gula, a vaidade, a luxúria, a avareza, a preguiça, a ira e a inveja.
Os Sete Pecados Capitais têm sido alvo de muitas interpretações, servindo de referência e base para quem busca trilhar o caminho do auto-conhecimento. E, para que sejam transformados em virtudes, faz-se necessário, antes de tudo, conhecê-los, e depois buscá-los dentro de nós mesmos.
No Budismo encontramos As Quatro Nobres Verdades, O Caminho Óctuplo, As Paramitas. O Budismo considera todos os sete pecados do Cristianismo, à exceção da luxúria, talvez porque este pecado esteja estreitamente relacionado com os demais.
O “Bhagavad-Gita” nos contempla com as sábias palavras de Sri Krishna – fontes de inspiração e estudo para várias religiões, como Hinduísmo e o Hare-krishna, por exemplo –, que afirmam ser a luxúria, a avareza e a ira as três portas para o inferno.
A percepção das faltas que cometemos, a auto-observação, é o caminho mais indicado para que esses pecados não nos dominem. Podemos ignorar ou considerar as pequenas faltas, mas é sempre prudente levar em conta que é nas pequenas faltas que criamos e alimentamos defeitos que, em situações que o favoreçam, se tornarão grandes faltas. Quem costuma cometer faltas leves, sem aprender com elas, negando-se à oportunidade de adquirir sabedoria, ruma para incorrer futuramente em faltas graves, com todos os retornos que estas podem trazer.
Enquanto não vencemos estes sete demônios internos, refugiamo-nos na ilusão de que somos superiores – seja através do poder, da aquisição de bens, do sexo –, permanecemos na busca incessante de compensações para a nossa incompreensão da existência, para o nosso vazio interior. E assim, ficamos sempre a perseguir o sentido da vida fora de nós, buscando acumular riquezas, poder, matérias, prazeres, sem nos darmos conta de que a maior riqueza, o maior tesouro, se encontra dentro de nós mesmos.
Recordemos as palavras de um sábio filósofo:
Sete são os obstáculos clássicos ou impurezas que, de acordo com tradição cristã, podem bloquear nossa percepção do verdadeiro Sol de amor e alegria espirituais. Essas sete ‘nuvens’, por assim dizer, são o orgulho, a inveja e a avareza (predominantemente no nível mental); a ira, a luxúria e a gula (predominantemente no nível emocional); e a preguiça (predominantemente no nível físico).
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Na sua presença nós perdemos, durante aquele período de tempo, a percepção daquele Sol espiritual de amor e deleite, e assim separamos a nós mesmos dos outros. A necessidade de compartilhar a bem-aventurança, que é amor, não parece estar ali, e nos sentimos solitários. Esta é apenas uma percepção distorcida daquela unidade que permeia todas as coisas e todos os seres. Para evitar esta distorção, nós não precisamos criar o amor, o que é tão impossível quanto criar o Sol, mas apenas evitar as sete ‘nuvens’ mencionadas, não as nutrindo. Então, a glória do Sol será visível novamente. De fato, o Sol esteve sempre brilhando, somente a nossa percepção estava bloqueada e não podia vê-lo. Portanto, para evitar a formação de nuvens se requer uma vigilância, momento a momento, a fim de restabelecer a percepção da unidade, como um novo nascimento, como o Cristo disse: ‘Naquele dia sabereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós.
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Os defeitos são como nuvens que se antepõe ao sol. A sabedoria é a arte de não deixar que estes obstáculos, estas nuvens, se formem em nossa vida. Tais obstáculos matam a liberdade da alma, aprisionam ela em estado depressivo.
Examinemos então a essência dos Sete Pecados:
Inveja: consiste, fundamentalmente, em negar o valor do outro, em projetar a negação do próprio valor. Na inveja, desvalorizamos os méritos alheios por nos sentirmos inferiorizados. Sentimos raiva, tristeza, por alguém ter algo que não temos, mas que gostaríamos de ter.
Ira: é marcada por raiva, ódio, irritação. É uma emoção totalmente destrutiva, tanto para quem a sente como para quem se torna objeto dela. A ira faz com que agridamos terceiros, projetando este sentimento contra nós mesmos.
Gula: é o exagero, a voracidade, no comer e no beber, mas também pode ser entendida como gula existencial, no sentido de abocanharmos, sem comedimentos, tudo o que os olhos vêem e desejam.
Avareza: é o sórdido e excessivo apego ao dinheiro, é o medo de que bens materiais venham a faltar, uma sensação contínua de escassez.
Orgulho: é uma mera ilusão de si mesmo, uma idéia exagerada e soberba daquilo que se é.
Luxúria: é a busca insaciável por prazeres, pela satisfação dos sentidos, não se restringindo somente a prazeres sexuais.
Preguiça: é caracterizada pela lentidão ou falta de vontade para agir, trabalhar, realizar. É um estado exagerado de inércia, marcado pela indiferença e apatia.
Os defeitos são manifestações da nossa ignorância, da nossa inconsciência, e estão todos dentro de nós, são gerados sempre dentro de nós. Nenhuma resposta para os defeitos é encontrada fora de nós, por mais que suas expressões sejam ou pareçam estar associadas a situações externas.
Diz Samael Aun Weor em “A Revolução da Dialética”:
Não há porque se resistir ao negativo e sim praticar o positivo incondicionalmente, ensinando suas vantagens pela prática. Atacando o erro, provocaremos o ódio dos que erram.
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Façamos luz, se é que queremos vencer as trevas.
A estas palavras, acrescentamos a sábia frase de Gandhi, para ilustrar as reflexões aqui abordadas:
Os únicos demônios que existem no mundo são os que habitam o coração do homem, e é aí que a Guerra Santa deve ser travada.
Analisando Os Sete Pecados Capitais sob a ótica budista, de maneira bem simplificada – mas não superficial -, podemos concluir que: a inveja é o desejo de possuir o bem alheio; a ira nasce da frustração dos desejos; a gula é um desejo voraz associado à necessidade de consumo; a avareza é o desejo de reter tudo para si, de possuir todas as coisas; o orgulho é o desejo de ser reconhecido, aceito, adorado; a luxúria é o desejo insaciável de prazeres, da satisfação dos sentidos, através das sensações; e a preguiça é o desejo de nada fazer.
A percepção de pecados nos outros parece ser algo muito enigmático. No judaísmo fala-se de uma inclinação para o mal. As pessoas iluminadas jogam Deus na frente desta percepção, e elas oram. Quando Deus não entra no circuito, o demônio entra e a coisa vira fofoca. “Quem não pensa em correção fraterna, apela para a fofoca” (Pe Paulo Bazaglia). “Felizes dos que tocam suas vidas em orações e silêncio.” (Pe Antônio Paiva)