Jardim dos Mestres

Sobre Crenças

Existem religiões que dizem que aqueles que acreditarem nisso ou naquilo estarão salvos. Algumas dizem que o Cristo morreu na cruz para salvar a todos e aquele que acreditar nisso estará salvo. Assim, continuam comodamente com seus comportamentos, não fazem nada para mudar, para melhorar, pois já estão salvos, mas acreditam que estão fazendo. Vão as igrejas, aos templos ajoelham, oram, choram, mas quando saem não voltam ao normal, a vida comum e corrente com brigas, disputas, discussões, palavrões, vícios, fofocas, maldades, sarcasmo, violência, maledicência.

Seguir o exemplo de Cristo é algo muito diferente. Quando olhamos para fora, podemos ver que existem muitos exemplos de pessoas que fizeram isso. São Francisco de Assis, Santa Clara, Madre Tereza de Calcutá, Gandhi, Sivananda, são alguns destes exemplos para vermos o quanto estamos longe de qualquer tipo de salvação. Quando olhamos para dentro, quando começamos a nos auto conhecer podemos perceber que realmente estamos muito longe de merecer alguma salvação, estamos muito longe de sermos dignos de alguma salvação. Qualquer um que tenha se observado ao menos um pouco, mas com humildade, sinceridade, honestidade, pode perceber isso.

Parece que arrumamos desculpas para não mudarmos, desculpas para justificar nossa incapacidade de mudar, desculpas para justificar nossa fraqueza, nossa falta de coragem para olhar para dentro de nós mesmos. O demônio da má vontade atua em nós de forma muito astuta, está sempre lavando as mãos como fosse bom e nada mais pudesse fazer.

Existem linhas religiosas ou filosóficas que dizem que o homem é essencialmente bom e outras que dizem que o homem é essencialmente mal. Se o homem é essencialmente bom ou mal, isso não vem ao caso, isso não impede de olharmos para dentro de nós, para olharmos a vergonha, o medo, a violência, a ignorância, a falsidade, a fraqueza, a maldade, a ira, a inveja, a avareza, a gula em nós. A essência do homem ser boa ou má é só uma idéia, uma idéia que nos limita muito, como qualquer outra idéia, conceito, preconceito, definição, auto definição.

Os defeitos e sofrimentos são os mesmos para todos, quer acreditem que o homem é essencialmente ruim, quer acreditem que o homem é essencialmente bom, quer sejamos cristãos, budistas, maometanos, hinduístas, quer sejamos brancos, pretos, morenos, amarelos, vermelhos. Os objetos, as situações, as manifestações, as expressões dos defeitos e dos sofrimentos pode mudar, mas os defeitos e os sofrimentos são os mesmos, precisamos perceber isso.

Existem os crentes, aqueles que acreditam em algo porque está escrito aqui ou ali ou porque fulano ou sicrano disse que é assim. São crentes, pois não tiveram experiências diretas, não viram por si mesmos, de forma que o que podem fazer é acreditar. Por apenas acreditarem acham que são melhores dos que aqueles que não acreditam. Se tivessem experiências diretas saberiam por si mesmos, então  compreenderiam a si mesmos antes e depois das experiências compreendendo assim os que não sabem, os que não acreditam.

Existem os descrentes, aqueles que não acreditam em algo porque está escrito aqui ou ali ou porque fulano ou sicrano disse que é assim. Dizem que não acreditam porque não podem ver, porque a ciência não comprova, porque não faz sentido, etc. Assim como os crentes não tiveram suas próprias experiências, nada sabem, apenas negam. Estes também são crentes, pois assim como os crentes acreditam que algo está certo eles acreditam que o mesmo algo está errado. Um crê num pólo o outro crê no outro pólo. Acham que são melhores do que os crentes porque não crêem, tolamente acreditam ter uma percepção melhor da realidade.

Atualmente muitas linhas religiosas ou filosóficas falam que estamos em tempos finais, que a Terra, que a vida na Terra vai passar por uma transformação, uma purificação. Acreditam todos que estão salvos por estudarem, por conhecerem isso. Todos se acham escolhidos por terem algum conhecimento sobre chakras, corpos sutis, projeção astral, karma, reencarnação. Não se estudam, não se conhecem, estão apenas fascinados pelos brilhantes da saída da caverna. É a coisa de acreditar que Cristo morreu na cruz e por isso estamos salvos. Mas cegos que estamos olhamos no espelho e não nos vemos.

A grosso modo, as crenças não tem grande importância desde que trabalhemos sobre nós mesmos, pois com isso a Verdade vai se revelando aos poucos.


1 de maio de 2017

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